esse pensamento é recorrente, mas ele veio com força na minha mais recente gripe. cena patética: eu deitado depois do jogo do grêmio contra o brasil de pelotas, aquela chuva desgraçada e tal. a mariana sentada na minha frente, olhando pra minha cara de peixe morto. quem já viu a miragaia no museu oceanográfico da furg, de óculos e tudo, sabe do que eu tou falando.
enfim, ela me dando um chá milagroso que ela tinha preparado pra mim. perguntei se funcionava, e ela disse que sim. então eu disse que os cientistas jamais deveriam ter dito que a mente é sugestionável, e que isso ia atrasar meu tratamento. ou seja: até mesmo o remédio que é eficaz se fode por causa da mente sugestionável.
afinal, eu estou ali, tomando o remédio, consciente disso, e pensando “este remédio vai me ajudar”. e daí eu me pergunto: se eu já estou pensando isso, quanto do efeito do remédio é apenas a ação da minha mente sobre meu corpo? afinal, uma vez publicaram numa revista de respeito (não sei se era veja, istoé ou mesmo superinteressante) que era possível fazer musculação apenas mentalizando os exercícios. acréscimo de 13% na massa muscular. nunca pratiquei. deve necessitar de muita concentração, coisa da qual eu não sou muito bom. mas achei impressionante.
portanto o remédio que eu tomo deve ser ajudado pela minha cabeça. meus olhos avisam que eu tou pegando um remédio pra tomar e transmite pros meus glóbulos brancos a informação de que vem reforço. os glóbulos brancos se emocionam. ficam praticamente iguais aos humanos quando os elfos se apresentam pra batalha de elm’s deep, no senhor dos anéis. reação em cadeia.
por outro lado, eu SEI que a mente é sugestionável. e pior: eu ACREDITO nisso. ou seja, minha própria consciência disso pode anular os efeitos da sugestionabilidade criada pelo chá ou remédio. ou pior: anular o próprio efeito efetivo (?) do remédio. cientistas filhos da puta!
também comecei a detectar o fenômeno em outros momentos da minha vida. como eu disse, concentração é algo difícil comigo. sou absurdamente disperso em tudo o que eu faço. chego a me concentrar na minha própria concentração, se isso é possível. eu imagino que nem todo mundo entende o que eu quero dizer com isso, então explico: eu estou falando com determinada pessoa e penso “preciso me concentrar no que ela está dizendo” (isso ocorre muito mais quando o assunto é mais importante pra mim do que pro interlocutor). daí eu me concentro pra caralho, de verdade... na minha própria concentração. em vez de prestar atenção no que a pessoa diz, eu estou avaliando se eu estou concentrado no que ela diz. metaconcentração, se isso existe.
então eu estava gravando com o valmor naquele sábado do post anterior. eu tava ali, sem errar nada, e de repente me dei conta de que estava acontecendo: eu estava concentrado na minha concentração. e sem errar nada. é como andar de bicicleta sem as mãos. cheguei a pensar em contar pro valmor que eu não tava concentrado nos meus dedos, mas achei que ia ser abuso.
acabou que foi a mente sugestionável se transformou em mais um assunto pra eu me (des)concentrar. e o chá? o chá funcionou. e bem.
michel-eugene chevreul. parte da culpa é dele. meteu esse nariz enorme onde não devia.
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