quinta-feira, maio 03, 2007

psicologia do trabalho

arionelson não dava uma dentro.

quer dizer... até dava, mas pra cada uma dentro, pelo menos duas fora. era foda, mas era assim. o cara às vezes marcava um golaço, ficava com a moral lá em cima com seus chefes e passava um dia tirando onda. daí na primeira que dava, relaxado que estava, deixava uma bola quicando. nada parecia capaz de parar as oscilações, nem mesmo o fato dele ter se tornado pai. e a situação já durava mais de ano e meio.

pois um dia arionelson deu a vacilada final. sabe-se lá por que cargas d'água, ele levou o celular do trabalho para casa. um celular exclusivo do lugar onde ele trabalhava, já que o plano telefônico da empresa não permitia ligações do telefone fixo para celulares. no dia seguinte, todos no serviço procuravam o aparelho. ligaram para o número. e atendeu a sogra de arionelson.

arionelson foi para a rua. o somatório dos fatos acumulados ao longo do tempo foi implacável. além de ter levado o celular, seus chefes descobriram que a maior parte das ligações feitas naquele celular eram de arionelson - e de cunho pessoal.

uma lástima, pois o arionelson era um ilustrador de mão cheia. contratado equivocadamente para ser diretor de arte e arte-finalista, o que ele realmente sabia fazer era desenhar. histórias em quadrinhos, mais precisamente.

arionelson passou um tempo desempregado. até que tomou uma atitude, com seu indefectível sotaque carioca:
- vou voltar para aquele emprego.

arionelson entrou cheio de convicções, conseguiu a atenção de seu ex-chefe e expôs seu problema:
- chefe, agora eu estou pronto.
- te demos chances demais, arionelson. desista.
- chefe, agora vai ser diferente. eu sou outro.
- nah. tu praticamente roubou um celular nosso.
- mas chefe...
- arionelson. não força. vai procurar outro lugar.
- eu parei com as drogas.
- drogas?
- é. parei com elas.
- tu usava drogas, arionelson?
- sim, chefe. e tou abrindo o problema de coração, pra mostrar o quanto eu estou disposto a acertar.
- e como eu vou confiar na tua palavra, arionelson?
- chefe. eu tenho um filho pra sustentar chefe.
- tu já tinha antes.
- mas agora eu parei com as drogas.
- é. tem que ser corajoso pra se expôr desse jeito...

arionelson foi à luta e conseguiu seu emprego de volta.
mas nunca havia usado drogas na vida.