quarta-feira, maio 30, 2007

ontem.

não tenho dúvidas. ontem foi o dia mais frio dos meu quase meio século de idade. NUNCA espirrei tanto na minha vida. intervalos de meia hora, no máximo, entre uma crise e outra. pelo menos foi a prova cabal da minha rinite que nenhum médico foi capaz de detectar, apesar de inúmeros exames. porque espirrar é uma coisa que eu faço ao natural desde pequeno, seja nos -7º de sensação térmica de 29 de maio de 2007 em porto alegre ou nos 33º de algum verão de 1993 em bordeaux. de todos os exames, eu saía com a certeza: "não tens sinusite". sinusite não, já uma outra ite...
ontem foi foda. espetacularmente foda. eu não entendo como não morro desidratado com a rinite.

hoje tá fichinha perto daquilo. saiu aquele frio carrasco pra dar um lugar a um frio mais humano, se é que isso é possível.
se ano que vem for mais frio que isso, eu mudo pra bahia.


***

dias nublados como esse me deixam saudosista. esse nublado específico de hoje. uma saudade específica de ontem. parece que foi ontem, mas não foi. foi há muito tempo.

alguém (pois não sei o nome dos caras), a mando da prefeitura, cortou a grama das praças vicinais à minha casa. os sabiás ficam todos visíveis, procurando minhocas em meio à grama úmida e rente. como tordos ou melros. ainda mais quando passo ali na praça paris, a sensação é mais violenta ainda. aquele monte de pássaros gordinhos andando de um lado pro outro e enfiando a cabeça na grama molhada. sabiás, melros-pretos. turdus rufiventris, turdus merula. porto alegre, bordeaux.

quando eu cheguei na frança, em 93, foi uma das primeiras coisas que me chamou atenção. ornitólogo por vocação, eu pouco dei bola pro fato de que existia uma espécie de free-way exclusiva da cidade, que dava a volta nela, a Rocade. eu tava olhando passarinho. búteos e corvos! nunca tinha visto um corvo na minha vida.
sem contar os pardais, que são idênticos em qualquer lugar do mundo.

e do quarto andar do edifício lancelot eu vi aqueles bichos negros que não eram corvos. às dezenas na praça, bicando o chão naquele gramado em formato de meia-lua. quem mora nos prédios ali da praça paris deve ter uma visão parecida com a que eu tinha, mas eu duvido que veja tanta graça. deu vontade de morar ali. ter a vista da praça paris pra tapear a saudade de bordeaux.

melros e tordos. parece que foi ontem a primeira vez que eu vi eles, mas lá se vão mais de 14 anos.