sexta-feira, abril 27, 2007

grandes dilemas

eu estava agora há pouco, depois de uma tarde inteira pensando em combustíveis fósseis e energias renováveis, fazendo duas coisas que eu gosto bastante: escutando pink floyd e lendo a parte não-política do jornal. não exatamente os esportes, mas sim a reportagem sobre o gliese-581c, o tal do planeta mais parecido com a terra descoberto até hoje, com toda aquela história de possuir vida ou não. daí me deparei com a seguinte frase, da astrobióloga alemã gerda horneck:
- nosso sistema solar é muito lógico, e visto que existem quase 10 bilhões de sistemas solares na nossa galáxia e incontáveis em outras, é muita presunção pensar que a vida na terra é única.

isso vem bem a calhar, dado que eu estou desde ontem de noite discutindo com o valmor, no blog dele, sobre futebol, música, entretenimento e religião, num debate que começou com ele insinuando que os ets dariam meia-volta ao se deparar com um aglomerado de pessoas assistindo a um jogo de futebol. eu acho que os ets dariam meia-volta por quase todos os motivos, até um show de rock, mas não é esta a questão.

a questão é que eu fiquei pensando nessa questão do nosso sistema ser muito lógico, e que portanto só a terra pode possuir vida por aqui. fico meio irritado de ler uma coisa dessas, porque parece sempre que "condições de vida" somente dizem respeito a condições de vida HUMANAS. eu não consigo acreditar que somente as condições da terra forneçam isso. ok, admito que acho difícil que haja terra em outros planetas do nosso sistema, mas quem diz que em outras galáxias alguma ameba não encontrou um jeito de superar o que a gente classifica como um mundo inóspito?

e logo depois, minha infância saiu do esconderijo pra dar uma volta na minha cabeça. primeiro com esse pensamento:
- porra... que sorte que a gente tem de ter nascido aqui. imagina se a gente nascesse em marte. ninguém ia sobreviver. se bem que... é justamente por isso que NINGUÉM nasce em marte. hm...

essa idéia não sobreviveu muito tempo no universo árido em que ele nasceu. mas houve um segundo pensamento: lembrei daquele garoto que, pra algumas pessoas (e pra mim mesmo), explica quase tudo o que eu sou hoje. lembrei do calvin viajando pra marte naquela caixa de papelão, junto do haroldo, com óculos de mergulhador. lembrei também do intrépido cosmonauta spiff sozinho num planeta desabitado, deprimido por se sentir sozinho, tão sozinho... pra finalmente acordar de novo na pele do calvin e se dar conta de que ele foi o único que ainda não foi pro recreio.

fiquei pensando se fosse eu em marte. com ou sem caixa de papelão. com ou sem algum haroldo. (eu tive um amigo imaginário quando eu era pequeno. meus pais garantem isso). fiquei pensando num planeta inteiro sem nada. nem ninguém. um planeta inteiro sem algum ser que ao menos se mexa. ou arrote, sei lá. nem que seja microscópico, atrás ou debaixo de uma pedra, verde, laranja, rosa, com quantos tentáculos tivesse que ter ou mesmo sem nenhum. me senti exatamente como o cosmonauta spiff naquele planeta desabitado.

juntei tudo isso. os ets dando meia-volta, a vida fora daqui, etc, pra concluir que eu continuo concordando com esse garoto que é meu amigo imaginário até hoje: a maior prova de que existe vida inteligente fora da terra é o fato de que eles nunca entraram em contato com a gente.