sexta-feira, novembro 17, 2006

Calor.

Ontem foi um dia perfeito, esse feriado que eu já não lembro mais seu porquê. Pelo calor. Não que eu tenha achado o calor excelente. Eu realmente prefiro suar do que tremer, mas aquilo quase me destruiu em dois momentos: primeiro no ensaio, que eu terminei tocando 20 minutos de bateria, e depois no futebol, que, bom, não exige explicações.

O fato é que “calor” vinha sendo um tema, uma questão que eu andava observando, procurando. Fui a Rio Grande e resolvi abrir um livro que tem tudo a ver com o meu novo quarto lá: As 100 melhores histórias eróticas. Ou Os 100 melhores contos eróticos. Não lembro. O que tem a ver com meu novo quarto? Tem uma cama semi-casal que é uma delícia (o que é uma novidade num quarto meu, dormir numa cama grande sem ser um sofá-cama arriado no chão), a qual minha mãe me anunciou como “pra quando tu trouxer alguma namorada”. Fui imediatamente procurar alguma possibilidade no orkut. Mentira.

Mas não é só isso: o quarto ficou tão afudê que eu queria que o meu, em Porto Alegre, o oficial, também fosse tão bem bolado. É o que acontece quando a mãe bota a mão nessas coisas – nunca sai absolutamente nada de ruim ou feio. Mas resumindo, realmente é um quarto que dá vontade de levar uma namorada pra lá, logo o livro estava em seu habitat natural.

Acontece que, eu tenho que admitir, eu adoro ler putaria. Quem me conhece bem sabe. Ver, também, mas filme pornô dificilmente vai apresentar sedução, e mais dificilmente ainda alguma sedução convincente, já que o negócio é ser uma grande fodedeira ou ter um pau grande. Textos, trechos, contos eróticos é que matam a pau. Não sei passar por um site de tal material sem ler pelo menos UMA historinha.

Às custas disso, esses dias eu passei talvez uma hora lendo o site da Bruna Surfistinha, me divertindo horrores com a naturalidade com que ela contava tudo aquilo. Era atraente somente pelos fatos, e não pela maneira como eles eram contados, evidentemente, mas tratam-se de histórias inquestionavelmente reais, e isso garante aquela curiosidade do tipo quando um amigo conta uma história dele ou rola aquele “Me disseram que a fulana fez...” na mesa da cerveja. Nesses momentos, não tem como negar, é uma delícia saber daquela colega de aula que tu sempre acreditou que fosse uma puta de luxo.

E o primeiro registro que eu tenho do gosto por essas leituras está justamente num texto que constava nessa coletânea de histórias de sexo. “Calor”, do Luiz Vilela – um homem recém-operado e sua sobrinha mais do que querida, sozinhos num quarto de hospital. É quente. Eu li ele pela primeira vez numa Playboy que eu suspeito que seja a da Paula Melissa, de 1996. Se for, o texto realmente não foi o único motivo pra eu ter aquelas páginas na minha cabeça e no meu... coração hehehe. A capa já era um tesão, e o ensaio era mais ainda, mas a flecha no coração é a Paulinha de quatro, apoiada na beira da cama. Aquilo é imperdoável, não se faz. Pensando melhor, se faz sim, e ainda bem.

Foi o primeiro de vários que eu não deixei passar sem ler, mas o que importa mesmo é que o título era astutamente apropriado. Até porque a Playboy da Paula Melissa era a de fevereiro, se eu não me engano. De janeiro não era, porque essa foi a da Anelise Lopes, uma loira gaúcha.

Então calor. E vinha fazendo calor mesmo, mas ontem, que eu tinha me proposto a ver se achava o conto na Internet (sem sucesso), fez um calor infernal em Porto Alegre, como já mencionei no início. E aí eu novamente obedeci ao contexto: saindo pro ensaio da Absence Of, que ia também ser uma gravação das linhas de bateria (com banda junto, ou seja, ruído na microfonação) das nossas quatro músicas até agora, eu achei que eu tava meio down, e resolvi trocar o Division Bell do Pink Floyd por algo mais tenso. BE, do Pain of Salvation, com sua capa negra, pareceu uma boa pedida. Fui reto pra faixa 9 e dirigi até o Sonic escutando Diffidentia (breaching the core). Daniel Gildenlöw se esmerou muito pra fazer esse grunge progressivo, mesmo que isso seja uma especialidade dele. A música é densa, pesada, arrastada, fungante como... um dia de calor. E deve ter a ver com o contexto de quando eu comprei o BE: era dia do show do Angra em Porto Alegre, dezembro de 2004. E fez um calor desgraçado, como fez em todo aquele mês, pelo que eu lembro, especialmente durante o show. Mas o show é o de menos, porque na verdade eu fui pra acompanhar meu irmão, fanático pela banda na época – apesar de que o show, lançando o Temple of Shadows, foi bem bom.

Então eu cheguei em casa, ainda de manhã, do centro, com o CD nas mãos e botei pra tocar. Fiquei alucinado: era o Dark Side of the Moon dos anos 2000, de tão genial, de tão complexo. Não sei ainda se tem sincronia com algum filme, mas o conceito e a emoção natural do Gildenlöw nas letras já basta, além daquela cara feia, queixuda e dona de dentes tortos dele: é o verdadeiro filho do Roger Waters, com o feeling do David Gilmour e uma interpretação sem igual na música humana. Em Diffidentia isso tudo fica muito evidente, e eu normalmente suo ouvindo ela.

Deu certo. O ensaio foi um tesão absurdo. Nós 4 (o Arthur não foi) estávamos absolutamente centrados, e com level 100 de feeling. Infelizmente o ensaio era apenas de 2 horas. E, como já falei antes, terminei ele tocando bateria, trocando de instrumentos com o Chan. Acho que não tinha melhor maneira de terminar o ensaio, mas em compensação eu não faço idéia de como terminar esse texto enorme de uma maneira tão boa quanto. Culpa do calor.