Mal comecei, mas já vou reclamar: postar é uma bosta. Mesmo. Ter um blog talvez seja uma bosta. Talvez eu esteja falando isso porque um dos meus blogs preferidos, o Vícios, Ressacas, Delírios e Outras Mentiras (um dos dois blogs que começou a desenvolver em mim um certo gosto por ler as escritas alheias, independente de ser fofoca ou não), morreu. A dona encheu o saco e me privou de uma das leituras que mais me inspiraram no último ano. Tudo bem... O que ela escrevia não era nenhuma revelação divina, mas apesar virgulorragia desenfreada, aquela moça é dona de uma grande elegância escrevendo, e me inspirou até em trocadilhos que acabaram em materiais de clientes meus. Exemplo: o folder do EcoVillage tem um trecho de frase que eu roubei dela. Deliberadamente, mas não sem avisar que eu estava fazendo isso, lógico.
Aí começa um grande problema dos blogs: tu tá dando a idéia pra quem quiser ler. Em tempos de internet, acredito que seja difícil manter uma coisa tua como sendo tua. Alguém sabe quem inventou isso, por exemplo? :
Duvido. Recebi da senhorita Bauer no Natal passado, e achei genial. Mandei uma resposta elogiando, porque achei que fosse dela, mas não era. E não sei de quem é. E a Paula, estagiária aqui da Pública, acha que sabe de quem é, mas não tem certeza.
Chega de devaneios. Postar é uma bosta mesmo porque a maioria das minhas idéias ocorrem quando eu não posso digitar porra nenhuma: dirigindo. Parelho com a leitura de putarias, dirigir é uma coisa que me dá um prazer enorme. Adoro pegar a estrada, e não adoro menos pegar as ruas. Especialmente as vias de acesso rápidas.
Quando não tou tendo um impulso criativo, é porque eu tou cantando – outra coisa que a “privacidade” das janelas fechadas me proporciona, e que eu aproveito ao máximo que eu posso. Aliás, é um crime deixar as janelas fechadas: eu deveria abrir as janelas. (Eu canto muito bem. Sem ironias, apesar dos comentários jocosos que vão se suceder.)
Dirigir é um ato quase inconsciente. Esses dias eu dirigi por uma boa distância somente prestando atenção nos botões do meu rádio, num trânsito nem tão santo assim, em meio à Nilo e suas curvas que vazam pro Iguatemi. Não aconteceu nada, e mesmo sem olhar pra rua, eu continuava na pista. Sempre fico impressionado com isso. Às vezes eu tenho a impressão que eu sinto o trânsito, pois nunca vi cara mais sortudo do que eu, mesmo nessas situações de prestar atenção em outra coisa.
Acho que é isso que faz com que dirigir seja um momento tão criativo. Já maquinei músicas inteiras no volante, idéias de letras, idéias de anúncios, idéias de campanhas e, desde sempre, idéias de textos. Todo dia, quando eu saio da agência pra ir pra casa, os 5 minutos entre um lugar e outro me rendem textos completos – e cheios. Daí eu chego em casa e imediatamente vou fazer outra coisa. Quando decido que vou escrever, já passa da meia noite, e eu normalmente prefiro acordar bem-dormido no dia seguinte.
Postar é uma merda. As idéias vão se adiando, e sentar pra realmente botar elas na folha de papel do Word é um milagre, pra não dizer um suplício. Mas é justamente por isso que eu criei esse blog.
Obs: escrevi esse texto pela obrigação de escrever algo pro blog. Daqui a 10 minutos vou ler ele e me dar conta de que esqueci de alguma coisa.
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