este é um post atrasado, mas esse atraso é facilmente remendável devido às circunstâncias. essa semana temos os primeiros jogos da dupla gre-nal em porto alegre, pela libertadores. momento inédito, um dia após o outro, os dois maiores estádios da cidade recebem jogos de nível continental, por um mesmo torneio.
sem dúvida teremos casa cheia nos dois casos, e creio que as duas torcidas vão se regular durante toda a participação no certame. se a do grêmio terça comparecer em bom público, provavelmente alguns colorados, indecisos por qualquer motivo extra que seja sobre ir ou não ao jogo de quarta, vão acabar decidindo por ir para dar o troco.
eu estou sendo oportunista, na real, porque eu perdi a chance de escrever esse texto em janeiro ainda, mas ninguém ia ler. azar. o fato é que assim como eu vou ver a estréia do grêmio em casa pela libertadores, eu fui ver a estréia do grêmio em casa pelo gauchão, contra o XV de campo bom. na verdade não lembro mais se foi a estréia, mas sei que foi a estréia do schiavi, que junto com o carlos eduardo foram os dois grandes motivos pra eu ir pro olímpico sozinho naquela quarta-feira.
ir sozinho a jogo de futebol nunca foi problema pra mim. em 2002 o grêmio ainda chegou nas semi-finais contra o santos, mas em 2003 e 2004 o desastre era evidente, e ficou meio difícil pra eu arranjar companhias pra ir aos jogos. acontece que eu morei tempo demais em rio grande pra me desvencilhar tão cedo da emoção de ver meu time jogar, e acabei indo ver todos os jogos que eu pude, o que me rendeu altos e baixos.
a questão é que, mesmo tendo muito prazer em fazer isso, várias vezes eu me perguntei o que eu tava fazendo ali, e nesse jogo contra o XV isso aconteceu de novo. eu ali, sozinho, pela primeira vez desde 2005, talvez, sem ninguém pra ver o jogo, xingar o juiz e falar bobagem junto comigo. fez falta, é verdade, mas o mais esquisito foi a volta dessa pergunta: o que raios eu tava fazendo ali?
não fico menos pilhado com o jogo quando estou sozinho, mas acabo observando mais as outras pessoas, principalmente antes e no intervalo do jogo. não foi a primeira vez que eu concluí que torcer prum clube de futebol não faz sentido nenhum. especialmente quando penso que tem gente que briga na rua por causa de rivalidade. qual é a moral, afinal, de eu dizer que eu sou gremista? nenhuma. é uma vantagem fictícia. eu torço pro time que foi ao japão em 1983, o outro torce pro que foi lá ano passado, mas e daí?
entre um devaneio e outro, o grêmio vai ao ataque. eventualmente faz um gol. ou o carlos eduardo gruda a bola no pé e eu cerro os olhos, porque os óculos já não são mais tão bons assim.
e daí eu vou embora no final do jogo. e eu me sinto muito feliz, satisfeito pra caralho, porque meu time ganhou. mas qual é a ligação entre aqueles caras e eu, afinal? mesmo que meu pai tivesse me levado a infância inteira pro olímpico e me mostrado que aquilo era legal, que lá nós vivemos bons momentos, quem é que disse que torcer pra um time de futebol ajuda em alguma coisa? por que eu me sinto tão bem com a camiseta tricolor e a colorada me parece impossível de vestir?
é quase como acreditar em deus. no final, ainda concluo que quem não torce pra time nenhum é que tem razão. porque a menos que eu tenha feito alguma aposta em fardos de cerveja, nunca ganhei nada com o futebol do grêmio.
mas nessa terça eu tou lá. eu e a minha camiseta preta. sem saber por que realmente eu estou lá. tanto faz. eu só sei que eu gosto e eu quero estar lá.
texto também publicado no www.semcaneleira.com, versão com maiúsculas.
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