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Semana Rick Wright - parte III
muito antes de ter sido revelado (?) o enigma publius, ou pelo menos a existência dele, o pink floyd já tinha um enigma bem mais presente.
formações de banda são algo intrigante. eu sou contra, na verdade, bandas que possuem um vocalista-vocalista, caso da hiléia e da absence of. me incomoda bastante, por exemplo, os shows do dream theater, onde o labrie some do palco por vários minutos durante as sessões instrumentais. acho isso tão ruim que eu realmente gostava quando o diogo fazia malabarismo com bolinhas de tênis (ou limões) durante YYZ, nos shows da hiléia. no mínimo ele também se divertia junto com a gente. o vocalista não é como um saxofonista contratado, que entra, faz o solo de money, e cai fora.
sempre prefiro quando o vocalista também é guitarrista ou pelo menos baixista. a formação do pain of salvation, por exemplo, é perfeita, na minha opinião: ninguém fica sem ter do que se ocupar. fora, claro, o fato de que o pain of salvation tem um time de vocais fudido. o único que não canta é o tecladista.
tem gente que diz que o pink floyd acabou no the wall. essa bobagem acaba ficando pequena quando eu vejo gente dizendo que o pink floyd acabou quando o syd barrett saiu, mas continua sendo uma bobagem. primeiro porque é foda desconsiderar o division bell, que é um dos melhores discos que eu ouvi na minha vida inteira, e é foda também pela falta de critério: se o que vale é a coesão da banda, o pink floyd acabou quando lançou o animals. o the wall já é 90% do waters, que escanteou de vez o gilmour no the final cut.
mesmo que o animals seja o meu preferido do pink floyd, pela energia que tem nele (críticos apontaram o disco como heavy metal), não tenho como negar que o auge foi 1973 com o dark side of the moon. ainda me impressiono como quatro caras conceberam essa obra, e me impressiono mais quando penso que o trabalho foi espetacularmente colaborativo: a única voz que não se ouve é a do nick mason. e é nas vozes que tá um dos grandes trunfos da banda, por ter três vocalistas de características muito diferentes.
o gilmour era provavelmente a voz oficial da banda, já que entrou pra substituir o syd barrett. era o vocal mais completo da banda, com um timbre bonito e versátil, além de talento pra interpretar (ver dogs). nick mason diz no livro inside out que os vocais da banda cresciam quando o gilmour interpretava as linhas imaginadas pelo waters. os vocais de mais força eram essencialmente com ele, como acontece em time ou young lust.
o waters era ácido e irônico quando cantava alto. conseguia parecer realmente louco. nos tons baixos ou vocais de dinâmica baixa, era a encarnação da tristeza e do desespero. essa foi a alma do the wall.
a terceira voz é uma voz difícil de definir. distante das interpretações mais viscerais que os outros dois eram capaz de dar, wright tinha outra tônica: um vocal linear, limpo, simples.
não conheço muitas vozes que conseguem transparecer isso. kevin moore, ex-DT, no chroma key, é o único que fecha perfeitamente. é o cover perfeito do rick wright. o steven wilson, do porcupine tree, também vai nessa linha, mas perde no enigma e ganha na versatilidade.
aparentemente, a voz do rick wright refletia exatamente o que ele era, pelo que se pode ler no inside out. mason define que era difícil de ver wright irritado ou chateado com alguma coisa, dado que ele era mais conhecido por "thinking about thinking". é uma voz pensativa, de fato. não por menos, pela própria letra, ele entra no refrão de time pra ser uma espécie de fala da razão, e existe algo de enigmático na interpretação dele. também ajuda na letra da etérea echoes, e se repete no personagem passivo de wearing the inside out, no division bell, que aparentemente suporta uma transição de estados, uma situação indefinida, sabendo que é capaz de superar e ressurgir dessa situação.
ontem ainda eu tava comentando com a senhorita e-bow que ao mesmo tempo que o pink floyd não faria sentido sem os shows espetaculares, os shows espetaculares não fariam sentido sem o pink floyd. os stones colocam uma parafernália violenta, mas o carnaval me parece meio gratuito. a performance musical do último show no rio, por exemplo, não sustentou toda a pirotecnia. até na comparação com os shows do rush eu acho que o pink floyd prova que toda a tecnologia casa melhor com eles do que com qualquer outra banda. acho que nada pode ser mais emblemático pra explicar isso do que shine on you crazy diamond no pulse.
independente do enigma publius, o pink floyd tinha o enigma já no som. a mágica era diferente das demais bandas, ainda mais das demais progressivas. por exemplo, em 1973 o yes lançou o close to the edge, que é espetacular, mas parece que esbarra na comparação com o dark side por, na verdade, não ter nada para dizer. ninguém até hoje me explicou o que jon anderson e companhia quiseram dizer com aquelas letras malucas...
calçado sobre acordes de strings e hammonds, bases simples, guitarras inspiradas, efeitos mil e um time de vocais que contava com uma voz enigmática, o pink floyd é um enigma por si só. o publius é desnecessário.
obs: notem que a semana foi pro espaço. não ando conseguindo postar e vou explicar em breve o porquê. mas já é oficialmente uma BIsemana.
Semana Rick Wright - parte II
naquele 11/08/1994, eu saí do show do pink floyd não com licks ou solos de guitarra na cabeça, mas sim com a linha de baixo de sorrow e vários, vários acordes de strings (os de keep talking, por exemplo) e hammond. na maioria das vezes, apenas tríades, tônica-terça-quinta, mas o suficiente pra sustentar uma músic.
portanto nada mais lógico que eu me tornasse baterista.
sim. baterista. porque também havia gary wallis e sua incrível bateria/percussão. um legítimo showman, pulando pra alcançar os pratos mais altos e tendo ainda um espetacular SINO no kit. learning to fly sozinha já bastava pra ver que ele tava se divertindo pra caralho.
às custas disso, eu ganhei uma bateria eletrônica Yamaha DD-14. a febre durou até 1996, quando eu cansei, frustrado por não ter uma bateria de verdade, a qual nunca rolou. então um dia aconteceu de eu me dar conta que eu conseguia reproduzir os acordes de learning to fly no meu Casio SA-21 ToneBank. eu tinha até um timbre meio parecido com aquele hammond organ. e outro dia, aconteceu de eu me dar conta de que eu tinha dois teclados. e que eu poderia montar um em cima do outro e ter dois timbres ao mesmo tempo. hmmmm...
a mágica aconteceu juntando uma cadeira que eu tinha, com braços. botei um skate atravessado nos braços e montei dois livros. botei o teclado menor na frente de tudo isso, na ponta dos braços, e montei o outro em cima dos livros que estavam em cima do skate. estava feito meu teclado de dois andares. era ridículo. os dois teclados tinham teclas pequenas e no máximo 4 oitavas. mas eu tinha 13 anos, então... dava.
como eu já tinha começado com learning to fly, resolvi partir pro resto do pulse. e tirei 90% dele. nota por nota. foi a partir daí que eu comecei a assimilar a maneira do rick wright de pensar a posição dos teclados dentro das músicas. ficou difícil de dissociar "progressivo" de "teclados" a partir daí, porque claramente eram os acordes e os timbres do cara que definiam boa parte do som do pink floyd.
e ainda hoje eu paro pra pensar no assunto. eu acabei me tornando um tecladista de dedos nervosos. não sei parar quieto e, principalmente na absence of, não resisto a dobrar uma linha de guitarra ou, de repente, ser a guitarra. mas tem horas que um acorde besta, tônica-terça-quinta. ou, mais rebuscados, existem tantos acordes bonitos que, quando bem colocados, parece que criam novas dimensões pruma mesma música. basta saber usar. esse foi o maior ensinamento que eu tive do meu primeiro professor de teclado.
Semana Rick Wright - parte I
volta e meia eu penso o efeito que teria tido na minha vida se eu ou meus pais tivéssemos tido a luz de que aquele teclado Casio SA-21 ToneBank, hoje representado por um Korg e um Tokai, ia ser o início de uma paixão que ia bem além de um simples hobby. eu me ouço tocando e vejo que tudo aquilo que eu aprendi de ouvido, na base de muito esforço e de teorias musicais pessoais e, creio eu, até exclusivas, poderia exigir menos de mim se eu tivesse começado do jeito certo, sem me sujeitar aos vícios de quem aprende sozinho, tentando entender uma língua com raciocínios próprios.
mas eu acho que se eu tivesse feito isso, talvez eu também tivesse me blindado pra sempre da revolução que esse senhor provocaria anos mais tarde, no dia em que ele e uma banda que eu não fazia questão de ir ver definiram o meu amor incondicional pelo progressivo.
naquela noite, eu saí do show do pink floyd não com licks ou solos de guitarra na cabeça, mas sim com a linha de baixo de sorrow e vários, vários acordes de strings (os de keep talking, por exemplo) e hammond. na maioria das vezes, apenas tríades, tônica-terça-quinta, mas o suficiente pra sustentar uma música. mais exatamente, pra sustentar a beleza dos solos de um dos guitarristas mais inspirados de todos os tempos. aliás, eu não sei dizer até que ponto as camas de teclado do rick não foram cruciais pra que os próprios solos do gilmour explodissem in any colour he'd like. o wright fazia a cama, o gilmour fazia a fama.
se eu ou meus pais tívessemos tido a luz de me botar pra fazer aula de piano no instituto de belas artes de rio grande, eu tenho certeza que eu teria me tornado um tecladista espetacular. mas por outro lado, eu provavelmente teria deixado de me impressionar com esse cara, que foi o tecladista mais elegante que eu já vi e ouvi tocar. o rick não precisava de firulas. e é por isso que o gilmour escreveu hoje que nunca tocou com ningúem como ele. os dois sabiam fazer mais com menos, e acho que o progressivo sente falta dessa sensibilidade, hoje em dia.
esse post acabou, mas eu ainda tenho muito a dizer. começa aqui a Semana Rick Wright. até sexta pelo menos, vou tentar escrever um texto por dia sobre esse cara que foi meu primeiro professor de teclado. vai em paz, rick. te vejo no lado negro da lua.
- ...faz aquilo pra mim? engole tudinho?
- mas nem engolindo nadinha! é nojento!
no dia seguinte, na frente dele, ela repete duas vezes o mocotó dominical.
são 3 da manhã. depois de escovar os dentes e perceber que eu inconsciente e sorrateiramente tentava comer a pasta de dente, me rendi ao fato de que o café que eu tomei na mariana foi meramente ilustrativo, e que eu estou com uma puta fome.
depois das picanhas mal-passadas de sexta à noite e do filé à parmesão com fritas de ontem no zelig (regado a serramalte, que é sempre bom de ressaltar), iscas de filé ao molho de queijo. é por isso que tá difícil perder 2kg.
e eu nem posso reclamar do fato de eu ter fome ou tar acordado a essa hora. em teoria, no meu trabalho, sou eu que faço o meu horário.