sexta-feira, janeiro 18, 2008

vinícius buendía.

eu li o final de cem anos de solidão aproximadamente 5 vezes. as 4 páginas finais da minha edição, no caso. li a primeira vez, na ânsia de saber o final, e não acreditei. tive que ler de novo. e de novo. e de novo. e mais uma vez. pra ter certeza de que aquele era realmente o fim da história.

acho que nenhum livro até hoje me grudou daquele jeito. eu fiquei dias preso no final, relendo pra ter certeza de que era aquilo mesmo: tudo acabava. macondo sofria um big bang ao contrário, como se tudo o que houvesse ali fosse tragado pra dentro de uma caixa de fósforos fiat lux. e "tudo", no caso, era não apenas coisas materiais, mas também todas as histórias e laços malucos de sangue que levaram o coitado do aureliano babilônia de volta pra casa naquele dia. histórias desde a época em que josé arcadio buendía fugiu de sua casa e fundou um novo povoado. cem anos antes.

hoje eu descobri mais ou menos como é. no dia 12 de agosto de 2007 eu recebi o email que começava com o seguinte parágrafo: "Venho por meio deste comunicar (apenas ao Chuchu, pois o resto do pessoal já sabe) que, em vista da formatura do Diogo no dia 19 de janeiro de 2008 (acho que é isso), sua mãe, Fátima Fonseca, veio me pedir que a Hiléia tocasse DE SURPRESA na festa do formando."
que coisa afudê, isso aí. reunir a hiléia na formatura de um de nós era coisa pra ser filmada e virar DVD. e, na época, todos nós éramos parceiros de fazer: eu, ivan, márcio e cruz, mesmo que o márcio tivesse medo das tendinites dele.

a perfeição da coisa ainda aumentou quando eu descobri que, além da mariana, mais duas amigas nossas iam pra rio grande de carro com a gente. dividida por quatro, a viagem ia ser absurdamente barata. que lindo.

aí descobrimos que a recepção, onde ia rolar esse esquema todo, não era no sábado. era na sexta. ocorre que eu estou trabalhando num lugar novo, que tem clientes do varejo de automóveis. o que significa que sexta-feira tende a ser o caos pra liberar todos os anúncios do mundo, exatamente como foi nas duas sextas-feiras anteriores. e desse jeito, eu nunca ia conseguir sair de porto alegre em horário decente pra gente fazer a nossa surpresa em rio grande. as chances de pegar a estrada por volta das 17 horas eram ridículas, por experiência. mas a esperança é a última que morre. conversei com o pessoal do trabalho e pedi pra fazermos um mutirão. faríamos o possível pra eu conseguir sair.

mais de cinco meses depois de planejamento, eis o que realmente aconteceu:
1. o cruz, pra variar, deu pra trás. conforme a data ia chegando, ele ia dando sinais de que pularia fora. e pulou.
disse que não ia mesmo na formatura, que ia viajar, não ia tar na cidade. com isso, a gurizada se desmotivou, mas ainda tentamos arquitetar um plano b: ou arranjar outro batera, ou fazermos voz/violão/piano, com rearranjos das músicas da banda.
2. a mariana decidiu, por um motivo muito justo, não ir mais para rio grande. a irmã dela passou no vestibular e ela obviamente não queria perder a festa.
3. quatro horas depois da mariana mudar de idéia, eu fui me deitar, depois de fazer minhas malas. era perto das 3 da madrugada. e eu rolei a cama até umas 15 pras 4. lá pelas 3:10 me veio a iluminação: a victória vai dar pra trás. acordei às 9 da manhã e liguei meu celular. chega a mensagem: "vinícius, me desculpa. tive uns problemas e não vou poder ir a rio grande contigo". com isso, a paula, que vinha com ela, não iria também.

ou seja: depois da reunião da banda ter se tornado impossível, todas as minhas chances de fazer uma viagem barata e com companhia pra enfrentar a estrada foram sumariamente reduzidas a 0. qualquer ônibus que eu pegasse não levaria menos de 4 horas e meia pra chegar em rio grande. e eu perderia toda a festa do diogo. mas meus cinco meses de planejamento já tinham sido reduzidos a pó, bem guardado em uma caixinha de fósforos fiat lux, feito um big bang ao contrário. exatamente como macondo.

Entretanto, antes de chegar ao verso final já tinha compreendido que não sairia nunca daquele quarto, pois estava previsto que a cidade dos espelhos (ou das miragens) seria arrasada pelo vento e desterrada da memória dos homens no instante em que Aureliano Babilonia acabasse de decifrar os pergaminhos e que tudo o que estava escrito neles era irrepetível desde sempre e por todo o sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra.

aham.

observação importante: das 17 às 19h eu fiquei praticamente só enrolando na agência.
a coisa sobre a qual eu tinha menos controle foi justamente a que deu certo.

segunda-feira, janeiro 14, 2008