quinta-feira, setembro 25, 2008

o outro enigma do pink floyd.

Semana Rick Wright - parte III

muito antes de ter sido revelado (?) o enigma publius, ou pelo menos a existência dele, o pink floyd já tinha um enigma bem mais presente.

formações de banda são algo intrigante. eu sou contra, na verdade, bandas que possuem um vocalista-vocalista, caso da hiléia e da absence of. me incomoda bastante, por exemplo, os shows do dream theater, onde o labrie some do palco por vários minutos durante as sessões instrumentais. acho isso tão ruim que eu realmente gostava quando o diogo fazia malabarismo com bolinhas de tênis (ou limões) durante YYZ, nos shows da hiléia. no mínimo ele também se divertia junto com a gente. o vocalista não é como um saxofonista contratado, que entra, faz o solo de money, e cai fora.

sempre prefiro quando o vocalista também é guitarrista ou pelo menos baixista. a formação do pain of salvation, por exemplo, é perfeita, na minha opinião: ninguém fica sem ter do que se ocupar. fora, claro, o fato de que o pain of salvation tem um time de vocais fudido. o único que não canta é o tecladista.

tem gente que diz que o pink floyd acabou no the wall. essa bobagem acaba ficando pequena quando eu vejo gente dizendo que o pink floyd acabou quando o syd barrett saiu, mas continua sendo uma bobagem. primeiro porque é foda desconsiderar o division bell, que é um dos melhores discos que eu ouvi na minha vida inteira, e é foda também pela falta de critério: se o que vale é a coesão da banda, o pink floyd acabou quando lançou o animals. o the wall já é 90% do waters, que escanteou de vez o gilmour no the final cut.

mesmo que o animals seja o meu preferido do pink floyd, pela energia que tem nele (críticos apontaram o disco como heavy metal), não tenho como negar que o auge foi 1973 com o dark side of the moon. ainda me impressiono como quatro caras conceberam essa obra, e me impressiono mais quando penso que o trabalho foi espetacularmente colaborativo: a única voz que não se ouve é a do nick mason. e é nas vozes que tá um dos grandes trunfos da banda, por ter três vocalistas de características muito diferentes.

o gilmour era provavelmente a voz oficial da banda, já que entrou pra substituir o syd barrett. era o vocal mais completo da banda, com um timbre bonito e versátil, além de talento pra interpretar (ver dogs). nick mason diz no livro inside out que os vocais da banda cresciam quando o gilmour interpretava as linhas imaginadas pelo waters. os vocais de mais força eram essencialmente com ele, como acontece em time ou young lust.
o waters era ácido e irônico quando cantava alto. conseguia parecer realmente louco. nos tons baixos ou vocais de dinâmica baixa, era a encarnação da tristeza e do desespero. essa foi a alma do the wall.
a terceira voz é uma voz difícil de definir. distante das interpretações mais viscerais que os outros dois eram capaz de dar, wright tinha outra tônica: um vocal linear, limpo, simples.

não conheço muitas vozes que conseguem transparecer isso. kevin moore, ex-DT, no chroma key, é o único que fecha perfeitamente. é o cover perfeito do rick wright. o steven wilson, do porcupine tree, também vai nessa linha, mas perde no enigma e ganha na versatilidade.

aparentemente, a voz do rick wright refletia exatamente o que ele era, pelo que se pode ler no inside out. mason define que era difícil de ver wright irritado ou chateado com alguma coisa, dado que ele era mais conhecido por "thinking about thinking". é uma voz pensativa, de fato.
não por menos, pela própria letra, ele entra no refrão de time pra ser uma espécie de fala da razão, e existe algo de enigmático na interpretação dele. também ajuda na letra da etérea echoes, e se repete no personagem passivo de wearing the inside out, no division bell, que aparentemente suporta uma transição de estados, uma situação indefinida, sabendo que é capaz de superar e ressurgir dessa situação.

ontem ainda eu tava comentando com a senhorita e-bow que ao mesmo tempo que o pink floyd não faria sentido sem os shows espetaculares, os shows espetaculares não fariam sentido sem o pink floyd. os stones colocam uma parafernália violenta, mas o carnaval me parece meio gratuito. a performance musical do último show no rio, por exemplo, não sustentou toda a pirotecnia. até na comparação com os shows do rush eu acho que o pink floyd prova que toda a tecnologia casa melhor com eles do que com qualquer outra banda. acho que nada pode ser mais emblemático pra explicar isso do que shine on you crazy diamond no pulse.

independente do enigma publius, o pink floyd tinha o enigma já no som. a mágica era diferente das demais bandas, ainda mais das demais progressivas. por exemplo, em 1973 o yes lançou o close to the edge, que é espetacular, mas parece que esbarra na comparação com o dark side por, na verdade, não ter nada para dizer. ninguém até hoje me explicou o que jon anderson e companhia quiseram dizer com aquelas letras malucas...

calçado sobre acordes de strings e hammonds, bases simples, guitarras inspiradas, efeitos mil e um time de vocais que contava com uma voz enigmática, o pink floyd é um enigma por si só. o publius é desnecessário.


obs: notem que a semana foi pro espaço. não ando conseguindo postar e vou explicar em breve o porquê. mas já é oficialmente uma BIsemana.